👩‍💻 - relatos de uma jovem em início de carreira
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Consegui meu primeiro estágio e meu primeiro dinheiro no segundo semestre da faculdade. Cerca de quase 1 ano depois, consegui um segundo estágio no qual estou até hoje. Às vezes me pego pensando que estou atrasada, que as pessoas da minha idade já não fazem mais estágio - já foram efetivadas. A realidade é que, por mais que eu quisesse ser efetivada agora, isso traria algumas consequências, como ter que trocar de turno na faculdade e ter que conciliar os dois. Querendo ou não o estágio é um pouco mais tranquilo de conciliar quando você está em lugar que não te explora e te trata devidamente como um estagiário. Não acredito que serei efetivada enquanto não me formar justamente pela empresa pensar da mesma forma, e também não acho que serei efetivada na equipe que estou hoje. Na verdade, eu não tenho nenhuma perspectiva de ser efetivada por x motivos. E é sobre algumas dessas questões que eu queria compartilhar hoje.

Tenho muitas dúvidas por onde seguir. Eu faço TI - yeah, women in STEM -  e quando entrei, botei na cabeça que seria desenvolvedora web. Estudei bastante no primeiro semestre e consegui minha primeira vaga quando estava trocando para o segundo. Eu quase não consegui essa vaga porque teve uma dinâmica em grupo que eu não tinha me tocado que teria. Já tinha recebido tantos nãos e vácuos das empresas que eu quase já não lia mais as etapas do processo, só enviava currículo, o que chamasse estava bom. Isso me deu um susto tremendo porque nunca tinha feito nenhum processo (só tinha feito uma entrevista para outra vaga pouco tempo antes mas não avancei). Um dia antes da dinâmica eu recebi um e-mail com os nomes de todas as pessoas que participariam comigo (eram mais de 10 pessoas) e fiz a burrada de jogar o nome delas no Google. Claro, acessei o Linkedin delas e me senti um lixo - eu ainda não sabia que o Linkedin é uma maquiagem, um Instagram do mercado de trabalho. Todo mundo parecia saber muito mais do que eu, ter muito mais experiência e estar mais preparado. Aquilo me deixou muito nervosa ao ponto de que, na hora da reunião, eu entrei no Meet, fiquei 20 segundos e saí de tanto nervoso. Acho que foi a primeira vez que a ansiedade me paralisou. Felizmente, consegui remarcar para outro dia e estava mais tranquila e tinha bem menos gente. Acabou que consegui avançar no processo e fui chamada.

Durante o tempo que fiquei lá eu aprendi bastante, tanto com coisas boas quanto com coisas ruins. Lidei com tecnologias que nunca tinha visto, mas até que me saio bem me adaptando em pouco tempo. Eu era a única mulher da equipe até algumas semanas antes de sair, mas isso não me incomodava ou me deixava insegura, porque sendo de exatas a gente (infelizmente) se acostuma com isso. Eu que comecei a querer a fazer as coisas o quanto antes e em pouco tempo eu já conseguia entregar bastante coisa (claro que nada muito complexo). No entanto, aos poucos eu fui percebendo que eu não era bem uma estagiária aos olhos do meu chefe, mas sim uma mão de obra barata. Em poucos meses eu já tinha que lidar com prazos curtos ou ter que implementar novas funcionalidades nas aplicações que eu não fazia a mínima ideia do fluxo, mas o que me garantia de fazer eu entregava, e entregava no prazo. Até me surpreendi em diversos aspectos comigo mesma. Mas aquela rotina era cansativa. Eu não podia sair cedo (por mais que a legislação diga que temos direito a sair mais cedo em época de prova), tinha que usar meu próprio notebook para trabalhar e se tivesse algum problema tinha que me virar, tinha que assumir responsabilidades que iam além do meu nível, não tinha tempo para estudar o que não sabia e não sobrava 1 minuto livre para que eu pudesse fazer algo da faculdade. Meu chefe pedia que fizéssemos projetos grandes e complexos em tempo recorde. Explorava ainda mais outros estagiários que estavam lá há mais tempo. Bufava quanto testava as coisas e não saia conforme esperado. Aos poucos eu fui prestando atenção aos detalhes e vendo que aquela rotina não era legal, e o ambiente também não.

Meus colegas eram legais e a gente já até fofocava sobre a empresa e tudo mais. Todo mundo lá reclamava do lugar, mas pareciam que tinham medo de sair, de deixar o chefe na mão. Mas a ficha caiu pra mim após minha primeira reunião de feedback com o gestor. O pessoal reconhecia que eu fazia bastante coisa (mesmo que na base de gambiarra) pro meu nível, que eu não hesitava em tentar pegar tarefas um pouco mais complexas e quase sempre conseguia fazer sozinha (depois de muita pesquisa e tentativa e erro), que eu fazia com uma certa qualidade pois sempre fui de testar mil vezes antes de entregar. Nessa reunião, basicamente a única coisa que eu ouvi foi que não era possível me avaliar pois eu era muito tímida. Eu não sou tímida, eu sou introvertida. Segundo ele, por eu não falar muito, não conseguia medir meu crescimento. Foi a coisa mais estúpida que eu já ouvi. Ignorou absolutamente tudo que eu fiz, e eu não fiz pouco. Dali em diante eu já não prestava mais atenção no que ele falava. No final, perguntou se eu tinha vontade de renovar o estágio, falei que sim e umas 2 semanas depois fui chamada pro outro estágio. Foi livramento.

Dessa vez, a vaga foi um pouco diferente. Empresa muito maior e processo seletivo minúsculo, felizmente nenhuma dinâmica em grupo. Eu tinha me inscrito para desenvolvimento já que já estava atuando, mas me chamaram para uma vaga em outra área. No começo fiquei meio assim, pois a impressão que deu é que só me chamaram porque precisavam preencher a vaga. Na entrevista me foi passado que meu dia a dia seria x, y e z, e decidi dar uma chance, mas a realidade tem sido bem diferente. Não tenho o que reclamar da empresa ou do pessoal, mas não vejo seguindo fazendo o que eles fazem. Eu tenho bastante tempo livre justamente porque meu líder sabe que aquela vaga não é pra mim, me cobrando pouco mas sem me deixar sem fazer nada, mas ele me deu a chance de entrar pra, quem sabe, conseguir efetivação em uma equipe que seja mais o meu perfil. Lá a cultura de compartilhar conhecimento é muito grande então eu tenho acesso a diversos cursos, e estou sempre aproveitando esse "tempo livre" para estudar aquilo que realmente gosto. Eu juro que tentei gostar dessa área, mas não é pra mim. Eu amo programar e ali praticamente não se programa nada, nenhuma linha de código. Decidi manter até o final porque já estou em reta final da faculdade, então não valeria a pena tentar em outro lugar.

Quase todos os dias me pergunto se fiz a coisa certa de ter aceitado essa troca. Sinto que estou perdendo tempo e experiência (em algo que realmente me vejo trabalhando). Se quero realmente seguir em desenvolvimento (o que já não tenho mais certeza), tenho medo de julgarem mal meu currículo por ter tido mais tempo em outra área. Já não sei mais se uma carreira em empresas é o que almejo seguir, ou carreira acadêmica. Se eu seguir carreira acadêmica, não sei o que estudar. Eu gosto de muitas coisas e isso é muito complicado, pois na minha cabeça eu posso trabalhar com tudo ou estudar tudo, mas a realidade não é assim. Eu preciso escolher uma área e focar, me especializar, mas é muito difícil de tomar essa decisão. A cada mês eu acho algo mais interessante do que aquilo que achava muito legal até então, e penso, e se eu seguir carreira com isso aqui?

Fico muito ansiosa e com muito medo quando vejo as vagas de Júnior em qualquer área que tenho interesse. Sempre acho que estudo, estudo e não avanço. Que não vou conseguir um emprego de verdade. Que não vou dar conta de pegar responsabilidades maiores. Que ninguém vai querer me contratar, que eu nunca vou ser suficiente. Que não vou conseguir seguir com carreira acadêmica porque nunca consegui fazer uma iniciação científica ou participar de um projeto. Que talvez eu não mereça estar onde estou hoje. Abro o Linkedin e já fecho pois não aguento mais ver "essa área vai acabar", "você está fazendo isso errado", "quem faz isso ainda nunca vai ser efetivado", "a IA vai te substituir", etc. E isso vai virando uma bola de neve, porque acaba me fazendo pensar que vou demorar cada vez mais para ter minha independência financeira dos meus pais, poder sair de casa e morar com meu namorado, poder viajar. E a ansiedade, o medo de estar atrasada e me atrasar ainda mais na vida só aumenta.

Eu não sei o que o futuro me reserva em questões de carreira, mas eu tenho feito o que acho que tem sido o melhor pra mim. Pode não ser o melhor para o meu currículo, para a experiência que eu preciso pro mercado, mas é o que consigo dentro dos meus limites. Tenho tido dias muito cansativos mentalmente devido a minha cobrança comigo mesma e as incertezas de tudo, então isso acabava fazendo com que eu faça bem menos do que gostaria em diversos dias. Mas tento acreditar que são os pequenos passos que me farão encontrar aquilo que realmente quero fazer.

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