✈️ - primeira viagem sozinha, SP, BGS, dores e experiências
Início do ano eu estava com planos de ir ao Beto Carrero. Já estava até pesquisando preço de passagem, onde ficar hospedada, quanto gasta em média em dois dias de parque, etc. Porém, eu percebi que o dinheiro que eu gastaria indo pra lá não me parecia ser tão bem gasto assim. Comecei a assistir diversos vídeos e minha vontade de ir acabou ficando muito dividida. Tinha até pensado em tentar ir em Gramado após o parque, mas tudo é extremamente caro. Desisti e pensei em outra ideia.
Uma das minhas vontades quando adolescente era de ir na BGS, a famosa Brasil Game Show. Muito popular lá por volta de 2012-2016, sempre contou com a presença de youtubers famosos, principalmente do ramo de jogos e stands das mais diversas empresas como Playstation, Xbox, Blizzard e muitas outras. Chegou até mim alguns anúncios da venda de ingressos e pensei, por que não? Tem tudo para ser divertido, eu gastaria quase o mesmo valor previsto caso fosse no Beto e ainda daria para convidar outras pessoas que também tinham interesse em ter a experiência.
Eu nunca tinha viajado sozinha e muito menos ido para São Paulo. A única coisa que eu ouvia de lá frequentemente era da violência, trânsito e roubo de celular. A princípio, não deu vontade nenhuma de ficar andando pelas ruas, então tentei montar um roteiro que me permitisse fazer o máximo possível andando pouco ou pegando Uber. E o que gastamos de Uber nessa brincadeira de 3 dias não foi pouco.
Compramos, com muita dor no bolso, o passaporte para ter direito a 3 dias de evento, mas só iríamos em dois, o terceiro tiraríamos para dar uma turistada. Como já estava prevendo (e spoilers dos próximos parágrafos) conforme minhas pesquisas sobre a BGS, não parecia que teria muita coisa para fazer, seria uma viagem perdida ficar tanto tempo assim seguido só naquele lugar.
Enquanto pesquisávamos se iríamos de ônibus ou avião, achamos passagens muito baratas para Congonhas. Não pensamos duas vezes e decidimos ir de avião, pois o preço estava o mesmo de ônibus. Eu queria ter ido e voltado no mesmo meio de transporte porque até então nunca tinha pisado em um avião, mas meu namorado, com um pouco mais de experiência, não queria ir de avião de jeito nenhum, não gosta. Para resolver o impasse, decidimos ir de avião e voltar de ônibus, assim agradamos os dois.
Dias antes da viagem fiquei sabendo que algumas regras relativas à escolha gratuita de assento da companhia aérea tinham acabado de mudar. Pesquisando o que podia ou não levar eu já estava me sentindo muito confusa, porque cada lugar falava uma coisa e muitas informações não tinham nem no site da companhia área. Com receio de que acabaria dando merda e ter que ficar com um lugar ruim, acabamos comprando dois assentos para garantir de uma vez já que pagamos bem mais barato na passagem do que imaginávamos e "sobrou" uns tostões. Digo que foi até bom, porque a notícia dizia que liberava x horas antes do voo para a escolha gratuita, mas quando entrei bem antes do horário, já tinha liberado sem qualquer aviso e muitos assentos já escolhidos!
Duas coisas não me deixavam ter paz: como que ficaria com o rosto sem pelos até a volta da viagem e se minha mochila caberia embaixo do assento, pois não levei mala. O primeiro medo foi porque 50% dos lugares diziam que podia levar pinça dentro de determinadas regras de tamanho e ponta e outros 50% falavam que era proibido. No final, acabei levando uma caneta depiladora que comprei na Shopee e decidi arriscar. Passou tranquilamente. A pinça teria sido bem melhor e tive a impressão que também teria passado, mas a caneta ajudou um pouco. Eu comprei uma mochila só pra essa viagem, um modelo da Romantic Crow. Li, reli e medi 500 vezes com medo de que se ultrapasse dois centímetros teria que despachar a mochila, porque como o voo estava lotado, a chance de ter lugar no bagageiro seria mínima.
Sem deixar ela explodindo e sem a expansão de volume, coube tranquilamente. Não tentei empurrar 100% pra debaixo da cadeira e levei uma leve "bronca" porque o certo não é deixar a mochila muito perto dos pés e sim totalmente embaixo do assento da frente, mas não deu em nada, acho que até daria pra deixar certinho. O que tenho para dizer em relação a essas mochilas é: elas realmente cabem muita coisa, mas elas não fazem milagre. Se tivesse muito frio na viagem eu teria passado necessidade, porque não dá pra socar coisa nela. Vai ficar explodindo e não vai caber direito. Tudo bem que parte do volume foi culpa de eu ter levado toalha de banho porque fiquei na dúvida se no Airbnb tinha. Dificilmente alguém vai te impedir de voar porque a mochila não está totalmente encaixada embaixo do assento da frente, mas eu não gosto de contar com a sorte.
Apesar de ser uma pessoa ansiosa, estava tranquila para o voo. Na verdade, eu achei entediante. Foram só 50 minutos, mas foi o suficiente para pensar: meu deus, imagina um voo de 12 horas? No início você fica até um pouco nervoso de como vai ser a decolagem, quando rola umas pequenas turbulências, mas depois parece que você está em um ônibus. O ouvido fica entupindo o tempo inteiro, e durante muito tempo você só enxerga nuvem o que no início é legal e rende umas fotos, mas depois você fica de saco cheio. Não é muito confortável e o tempo inteiro alguém fica anunciando alguma coisa, sejam os pilotos, sejam os comissários. Justo na minha vez o tempo estava ruim, então as fotos não ficaram aquela coisa toda.
Eu tenho cinetose, o que é um inferno na vida e fiquei muito surpresa de não ter passado mal na hora. Mas comemorei muito cedo, porque no final do dia, por motivos de cinetose ou outra coisa não identificada, eu estava morrendo de dor de cabeça e a boca começou a ficar muito seca. Fiz um lanche leve e tomei remédio pra dor de cabeça, e assim que comecei a tomar água por conta da secura na boca, enjoei e tive ânsia de vômito durante uns 5 minutos seguidos. Confesso que quase chorei logo no primeiro dia porque, como sempre, tudo na minha vida tem que ter um porém. Felizmente, a ânsia passou e fiquei bem. Espero não passar por isso toda vez que viajar de avião.
Logo de cara, São Paulo me chocou de algumas formas:
- O trânsito é uma coisa doida e horrível que nunca tinha vivenciado, caos total, qualquer viagem dura no mínimo 30 minutos. Todos os motoristas que pegamos bufavam durante o trajeto. Não sei como não presenciamos nenhum acidente. O metrô é bem rápido, mas tem que saber pra onde ir.
- Quase não vi áreas verdes por onde passava, parecia que só tinha prédio e tudo é muito cinza.
- Uber encarece rápido, mas tem umas referências quando mostra o local de embarque que na minha cidade não tem, o que achei bem legal e ajuda bastante pra quem não é dali.
- Muita desigualdade social escancarada, o que me deixou muito triste várias vezes ao longo da viagem. Vi crianças pequenas trabalhando em semáforo, muuuitos moradores de rua.
- Não pareceu ser comum dar bom dia, boa tarde e boa noite pra quem você não conhece.
- Não parece faltar opções do que fazer, o que é o completo oposto de onde moro.
Como cheguei já passando mal e morrendo de fome, só consegui olhar melhor pela janela da nossa hospedagem no dia seguinte. O quão é normal ter essas pinturas de Jesus nos prédios de São Paulo? Eu tomei um susto quando vi que tinha um olhando diretamente para nossa janela. Em outro prédio mais para direita tinha outro igual. Me lembrou muito aqueles meme de "Eles tão de olho em nois". Meus amigos, que ficaram em um outro bairro, disseram que também viram em outros lugares ao longo do caminho.
Nosso primeiro dia oficial de viagem começou já se arrumando para ir almoçar e alguns estresses. Meu namorado decidiu, do nada, que queria comprar uma câmera do outro lado de onde estávamos. Isso me deixou um pouco estressada porque passei dias, semanas, perguntando se ele queria colocar alguma coisa a mais no roteiro e ele nunca falava nada, sem contar o gasto a mais com Uber. Com a BGS começando 13h, queríamos (eu e meus amigos) já estar lá por volta de 12:30 no máximo para não ficarmos muito pra trás na fila, mas essa brincadeira de ir comprar uma câmera nos tomou quase 1 hora. Chegamos no evento 13:20. A ideia era sair por volta de 18h para conseguirmos ir no MASP, porque às sextas a entrada é gratuita depois desse horário. No entanto, os planos já deram errado logo cedo.
Logo percebemos que teríamos dor de cabeça para chegar no lugar. A BGS esse ano foi no Distrito Anhembi e o trânsito que era para chegar perto da entrada, que não fazíamos ideia da onde era, estava caótico. Acabamos adotando a famosa lógica de seguir o fluxo de pessoas, mas se estivesse vazio, teríamos rodado aquilo tudo procurando uma entrada. Quando chegou a vez de passar na segurança ficamos assustados com o quanto não tinha segurança nenhuma. Passavam um detector de metal que, se apitasse, só perguntavam o que era e deixavam passar. Entrava com arma fácil.
Nos dirigimos direto para o stand da Nintendo visto que era o único que estávamos realmente interessados. Para variar, assim como tooooodo o evento, já tinha uma fila relativamente grande esperando pelo brinde. Entramos nela sem saber exatamente o que estava acontecendo e logo veio uma funcionária dizendo que aquela fila não deveria existir, que era do outro lado. Depois de mil reclamações alheias, fomos para o outro lado e fomos avisados que dali 30 minutos iriam começar a distribuir o brinde (demos sorte, não sabíamos que teria horário). A fila andou rápido, mas é claro que quando chegou a nossa vez de entrar de fato no stand, perceberam que a fila errada começou a se formar de novo, causando mais confusão, alegações de fura fila, etc. Deixaram algumas pessoas passarem na nossa frente dessa outra fila em vez de mandarem elas para o final que nem fizeram com a gente, mas, novamente, as coisas foram rápidas e logo eu estava com a minha bolsa. Bolsa essa que todos os lugares que você ia, alguém estava usando. E com certeza alguém vai usar nas compras de supermercado. E sim, foi cerca de 1 hora para conseguirmos uma bendita de uma bolsa, que apesar de ter sido muito útil, não tinha nada dentro.
Em seguida, andamos por quase todo evento sem saber para onde ir, o que fazer. Queríamos ter ficado na área dos jogos indies, mas tudo já estava tão cheio e com tanta fila que confesso que a vontade era de ir embora. Esse sentimento se repetiu nos 2 dias que fomos. A expectativa era voltar para casa depois de ter jogado vários jogos e pegado vários brindes, mas nada chamava atenção e tudo que envolvia brinde tinha filas gigantescas. O calor estava insuportável, não tinha lugar para sentar. Depois de fazermos mais nada no primeiro dia de BGS, por volta das 17h, já estávamos morrendo de dor na perna e cansaço da viagem. Optamos por não ir no MASP, com expectativas de que o dia seguinte seria diferente. E foi ainda pior, pois no sábado o evento estava tão cheio, mas tão cheio, que ficamos pouco mais de 2 horas em uma única fila para participar de uma brincadeira e ganharmos um brinde. Tentamos jogar alguma coisa no stand da Nintendo de novo, mas além das filas grandes, o tempo de jogo era ridículo. Só nos sujeitamos para pegarmos uma coroa de papel de brinde.
Já estávamos tão putos e percebendo o quanto gastamos dinheiro e tempo indo até lá que só queríamos sentar um pouco antes de ver o show de orquestra da Sony. Rodamos tudo e não tinha nem lugar no chão. Só conseguimos encontrar espaço (que rapidamente se tornou disputado já que todo mundo teve a mesma ideia) em uma arena de Brawl Stars (??), onde estava acontecendo um campeonato. Enquanto a disputa rolava junto com transmissão ao vivo em dois idiomas, não estávamos entendendo nada e só conseguíamos pensar o quanto queríamos ir embora ao som de gritos que vinham do lado por conta de toda uma treta que ficamos sabendo depois envolvendo o Meet & Greet com o Hideo Kojima.
Na hora do show, estava tão desorganizado que ninguém sabia onde seria a entrada. Achamos que chegar 1 hora e meia antes do horário nos daria vantagem, mas para variar, já tinha uma concentração gigantesca de pessoas. Vendo a quantidade de gente que estava se reunindo e a salada que estava se tornando, o tempo de espera que ainda nos aguardava e a dor de cabeça + perna, optamos por ir embora mais cedo novamente. Depois também ficamos sabendo que foi uma confusão conseguir lugar nesse show, que por pouco não ocorreu fatalidade com gente sendo pisoteada. E falando em ser pisoteado, um povo completamente sem educação e sem noção, viu? Nunca fomos tão empurrados e socados por pessoas alheias.
Se pretendemos voltar? Nem pensar. Infelizmente, o evento não é mais o que o nome indica e a não ser que você vá para fazer cosplay com seus amigos, consideramos perda de tempo, dinheiro e uma quebra de expectativa. Erros de organização e diversos problemas em todos os dias de evento. Funcionários não sabiam nem ao menos dizer onde ficava a saída e não havia qualquer sinalização. Preços absurdos de alto para qualquer coisinha. Sem lugar pra sentar. Muito mais gente do que deveria por metro quadrado. Ar condicionado que parecia não funcionar. Jogos mesmo quase não tinha fora da área indie e o que tinha era fila de mais de duas horas. Para voltar para casa precisava saber um local estratégico, se não ia pagar 60 reais no Uber e levaria mais de uma hora para achar na chuva porque todos os motoristas iriam desistir devido ao trânsito (experiência própria). Felizmente não houve qualquer incidente como um incêndio, porque o caos que aquilo ali iria virar, eu não queria estar para vivenciar.
Toda nossa expectativa foi depositada no último dia de viagem, já que os outros dois anteriores foram só decepção. Mesmo com dores de ficar andando e ficando em filas, decidimos fazer tudo que estava previsto. Nosso roteiro para o domingo era: Liberdade, Museu do Ipiranga, Aquário e Taverna Medieval.
Na Liberdade, tivemos que ir bem rápido para comprar algumas coisinhas diferentes e almoçar porque tínhamos horário para o Museu e o Aquário. Por lá, ficamos cerca de 1 hora na porta do famoso Lamen Kazu para comermos lamen pela primeira vez. Confesso que não sabia como pedir e acabei pegando um que achei muito salgado, mas estava bom. No início achei um pouco estranho, mas não era ruim, só era diferente para o meu paladar. Consegui me virar com o hashi e fiquei triste por perceber que não tenho previsão de conseguir comer novamente, porque não tem por aqui.
Como era feriado, o Museu do Ipiranga teve entrada de graça. Infelizmente, parte dele estava em reforma e não conseguimos explorar tudo, e também porque estávamos com pressa por conta dos horários. Um dos meus amigos sabe muito de história e geografia, então ele foi quase que o nosso guia ali dentro contando curiosidades. Tivemos que fazer o famoso tour de ignorar quase tudo que estava escrito pra dar tempo, mas até que rendeu umas fotos legais. O que mais me chocou foi ter visto diversas pinturas que até então só tinha visto em livros, e me deparar com o tamanho delas.
Dali fomos direto para o aquário, que foi bem legal. Como já era praticamente o último dia de viagem, compramos algumas lembrancinhas em uma das lojas lá dentro (e sim, foi bem caro) mesmo. Achei o conceito de aquário um tanto engraçado, pois vimos peixes, cangurus e até urso polar. Inclusive, por alguns segundos a energia tinha caído e a primeira coisa que pensei foi na localização desse aquário, ele simplesmente fica no meio de um bairro comum, do lado de casas e prédios. A ideia de ter um urso polar no Brasil (e ainda por cima, em São Paulo) também foi algo que alugou um triplex na minha mente.
Por fim, terminamos na Taverna Medieval. E gente, que restaurante maravilhoso. Quem gosta de coisas medievais, RPG, vai se amarrar nesse lugar. Tudo lá é extremamente temático (até os funcionários) e tem vários lugares diferentes pra você escolher sentar (mediante reserva). Ficamos na tenda do mago, que para nossa sorte ficava de frente para o cozinha, então chegou rapidinho os nossos pedidos. Simplesmente do nada começou uma música sendo tocada por dois "bardos" que iam passando pelas mesas, e uma mulher que lê runas oferecendo seus serviços (que é pago a parte). Como um dos meus amigos estava para fazer aniversário, ele ganhou uma leitura grátis e foi bem interessante. Ele também teve direito a uma dose de hidromel e jogar no tiro ao alvo, mas esse último brinde acabou que não foi usado por conta do tempo que tínhamos. Eu pedi anéis de cebolas recheadas e um nhoque de abóbora, e gente, que coisa maravilhosa. De sobremesa, pedi o Sopro do Dragão, que parecia uma mistura de creme de baunilha com geleia de frutas vermelhas e por cima eles colocam suspiro banhado em nitrogênio, ou seja, fica saindo fumaça! Quando você come o suspiro, a fumaça sai pelo nariz e pela boca, daí vem o nome da sobremesa. Foi muito divertido todo mundo soltando fumaça, e a sobremesa simplesmente a mais gostosa que já comi.
E ah, as bebidas são servidas em formato de poção! Pedi um drink sem álcool em que o sabor foi decidido pelo dado que joguei, e no final foi o de tangerina, muito gostoso!
A volta para casa foi bem tranquila e bem mais confortável do que andar de avião. Descobri que não consigo dormir em ônibus, mas fico bastante relaxada.
O post foi enorme e até demorei um tempo grande para conseguir finalizá-lo, mas foi legal relembrar tudo. Infelizmente não foi exatamente como o planejado e tiveram vários poréns que não compartilhei, mas foi essencial pra mim, eu realmente estava precisando de algo assim. Voltei bastante pensativa e ainda tenho refletido sobre algumas coisas que talvez eu vá compartilhando por aqui com o tempo. Demorou mais de uma semana pra ficha cair que as férias acabaram e que a vida não é só passear e gastar dinheiro, infelizmente.












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